A garota dinamarquesa e a otorrinolaringologia: algo em comum?
- domingo, 9 setembro 2018
- por: Dr. Leonardo Gomes
A garota dinamarquesa é um filme recente que conta história de Einar Wegener, dinamarquês, casado e pintor, que passa a não se ver mais no corpo de um homem.
A trama se desenrola à medida que o personagem principal busca se tornar uma mulher. Para isso se submete a uma das primeiras cirurgias de mudança de sexo com o intuito de se transformar por completo em Lili Elbe, seu ideal feminino. Isso ocorreu em 1930, quanto Einar tinha 48 anos.
Primeiramente, ele foi submetido a uma castração cirúrgica sob a supervisão do famoso médico alemão Magnus Hirchsfeld, que fundou a primeira associação de defesa de homossexuais e transexuais. Em seguida passou por várias operações realizadas pelo Dr. Kurt Warnekros, um cirurgião de Dresden, a quem Elbe se referia como seu criador e salvador. Em 1933, após uma tentativa de completar o processo implantando um útero e criando uma vagina artificial, Elbe não resistiu e morreu poucos dias antes de completar 50 anos.
E o que essa história de tem a haver com a Cirurgia Plástica Facial?
No blog “Como nasceu a cirurgia plástica?”, escrevi sobre Harold Guilles, considerado “o pai da cirurgia plástica”. Acontece, que embora de atuação focada principalmente na face, tendo operado milhares de soldados mutilados em guerra, Guilles também atuava nas chamadas cirurgias de redesignação sexual. A faloplastia era uma destas cirurgias que vinha se desenvolvendo por conta de seus trabalhos (um otorrinolaringologista!) e cujos conhecimentos tiveram influência nas técnicas empregadas nas cirurgias feitas na “garota dinamarquesa”.
Isso não é nenhuma surpresa para mim, as diferentes partes da medicina se interconectam.
Por exemplo, os endoscópios usados em cirurgia nasal foram desenvolvidos a partir daqueles usados em exames da bexiga (cistoscopia). A delicadeza da microcirurgia de ouvido feita pelo otorrino confere ao cirurgião habilidades que podem ser empregadas nas elaboradas cirurgias plásticas faciais. Por outro lado, as amplas dissecções realizadas nos casos de cirurgias oncológicas de cabeça e pescoço são muito importantes para aumentar a confiança do cirurgião e a segurança do paciente submetido a um lifting facial.
Por isso, acredito que um bom médico deve ter uma formação básica forte, de peso, vasta. Alguém que se especializa muito cedo acaba se desconectando do todo e perdendo toda a vivência que poderia ter tido, se tivesse permanecido mais tempo adquirindo experiência a partir da atuação nas diversas e agregadas especialidades médicas.
Por isso, acredito que um bom médico deve ter uma formação básica forte, de peso, vasta. Alguém que se especializa muito cedo acaba se desconectando do todo e perdendo toda a vivência que poderia ter tido, se tivesse permanecido mais tempo adquirindo experiência a partir da atuação nas diversas e agregadas especialidades médicas.
Toda construção começa com uma boa fundação. Antes de chegar ao ápice devemos construir muito bem a base da pirâmide do conhecimento.
Autor
Dr. Leonardo Gomes
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