Pássaro ou coelho?

  • quarta-feira, 28 fevereiro 2018
  • por: Dr. Leonardo Gomes
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Transtorno dismórfico é o bicho papão do cirurgião que trabalha com estética. 

É um problema psiquiátrico, que ocorre em maior ou menor grau, caracterizado pela deformação da imagem que o paciente tem de si mesmo. Nessa situação, quando eu olho para o paciente, aquilo que eu vejo é diferente daquilo que ele vê quando se olha no espelho. É o que ocorre com as modelos anoréxicas, que acabam emagrecendo tanto que morrem de fome. Essas infelizes pessoas sempre se enxergam obesas, mesmo que todos as enxerguem de outra forma e independentemente dos outros dizerem que elas estão magras demais. Os “Ken e Barbies humanos” costumam expressar  os graus mais intensos desta doença. Michael Jackson provavelmente sofria deste mal. 

Como estas pessoas tem uma fixação com a estética, elas acabam sendo atraídas pelos médicos e outros profissionais que lidam na área. Alguns estudos indicam até 30% de pacientes que sofrem deste transtorno dentre aqueles que pretendem fazer uma Rinoplastia, mas o transtorno está potencialmente atrelado a qualquer procedimento estético.

Existe todo um esforço em se diagnosticar as pessoas que sofrem deste transtorno antes da cirurgia, pois como o problema está na mente, não há cirurgia que resolva. O paciente nunca ficará satisfeito e sempre irá querer mais, melhorar aqui ou mudar ali. Teoricamente, este diagnóstico contra indicaria qualquer procedimento estético, mas é muito difícil perceber isso no pré operatório. Muitas vezes os próprios pacientes não sabem. E, mais complicado ainda, costumam não aceitar quando são assim diagnosticados. Uma avaliação psiquiátrica pode parecer ofensiva e, além disso, o diagnóstico pode passar despercebido pelo próprio psiquiatra, que pode interpretar o marcado desejo de alteração estética como vaidade pura. Na verdade, só depois da eterna insatisfação desencadeada pela primeira cirurgia é que o diagnóstico fica mais evidente. 

Quem se aventura no mundo da estética tem que entender que, mais cedo ou tarde, vai se deparar com este tipo de paciente. Faz parte, é uma escolha. Antigamente era mais fácil do que atualmente. Imagine o sofrimento de  quem padece do transtorno dismórfico nos dias de hoje: a profusão de câmeras de alta definição incorporadas aos celulares, os programas de edição de imagem que manipulam as fotografias tornando-as perfeitas e irreais e a busca incansável pela beleza... 

É como correr atrás da própria sombra. É como se alimentar e continuar com fome. 

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Autor

Dr. Leonardo Gomes

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